quarta-feira, agosto 11, 2010

Das coisas que eu não entendo

quarta-feira, agosto 11, 2010
Vez ou outra brigavam, ela batia a porta e dizia que dessa vez era para sempre. Ele entrava nessa fase mansa e melancólica, e a consequência disso eram rimas improvisadas e tortas que brotavam no papel a medida que as nuvens escureciam lá fora. Enquanto assistia ela ir embora e com a testa apoiada contra o vidro da janela, não sabia ao certo quem era reflexo de quem, já que as gotas de chuva batiam e escorriam em uma sincronia absurda com as lágrimas do seu rosto. E danava-se a escrever:

"Não entendo da chuva ou das previsões.
Não entendo das atitudes ou das tentações.

Não entendo da vida de antes que se acaba em um instante.
Não entendo da necessidade de uma crise constante.

Não entendo de terra, não entendo de água.
Não entendo dos motivos e nem de tanta mágoa.

Não entendo do escudo ou da desconfiança.
Não entendo da repentina mudança.

Não entendo de mim, de nós ou dos outros.
Não entendo de se preocupar com o que pensam os outros.

Não entendo das razões ou das loucuras.
Não entendo do tédio ou das aventuras.

Não entendo dos contrastes ou das crenças.
Não entendo da impaciência com as diferenças.

Apenas entendo que quanto mais amo, mais o amor se afasta.
Entendo que o amor infinito já não mais me basta."

O carro dela ficava cada vez menor na estrada enquanto as lágrimas continuavam a chover.
 
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