segunda-feira, março 19, 2012

Meu avô sabia das coisas

segunda-feira, março 19, 2012
Foi dia desses que revirando as coisas no meu quarto de adolescente achei uma caixa velha.
Já fazia algum tempo que não voltava ao antigo bairro, à antiga casa e às antigas emoções. Não que houvessem complexos (além dos normais) na minha infância, mas a vida agitada e corrida do mundo adulto me impediu de voltar por muitos anos, até que minha mãe me convenceu a fazer uma visita.
Talvez por um lapso muito estranho de saudade dos meus 15 anos, resolvi arrumar meu velho quarto. Todo cômodo estava intacto desde que o deixei para ir morar sozinho.
Até que revirando em baixo da cama encontrei esta caixa.

¬- Mãnheeeeeeee! Que caixa é essa em baixo da minha cama?

- Não sei. Era do seu avô. Resolvi guardar algumas coisas aí depois que ele morreu.

Abro aqui um parêntese sobre meu avô: era um cara que sabia das coisas.

Um português sábio, nascido no fim da 2ª guerra, um romântico incurável que durante toda a minha infância, me ensinou como ser um homem decente, de bons costumes e tratar bem as mulheres. Passando para mim tudo que ele sabia e formando boa parte do meu caráter. Devo agradecer a ele o complexo de cavalheirismo que desenvolvi ao longo dos anos, bem como algumas decepções nos assuntos do coração.

Fecho aqui o parêntese sobre meu avô.

Abri a caixa e no meio de algumas fotos e cartas encontrei um velho poema, que aparentemente ele havia escrito para alguma namorada. Um flerte a distância que por qualquer motivo, parecia não ter dado certo. Seguia-se assim: 

“Quando a vida passar nos teus olhos
Você vai perceber que o amor
Sempre enxerga além, até bem demais
E só ele importa

Para ter certeza de que vai gostar do que vai ver
Ignore todas as distâncias que puder
O mal do homem nunca foi o medo, somente a preguiça
Corra sempre atrás de quem te atiça

Do beijo diferente que só você sentiu
Do sorriso a mais, que mais ninguém viu
Pelo amor até se vê aquele outro ser
Diferente de todos os outros
Por ser bobo igual a você

E de baixo da sua chuva de alegria
Escrevo essa canção pra te lembrar
E sem querer admitir
Um dia poder te esquecer

Vou ficar com a impressão de amor
De uma bebida cheia de gosto e cheia de teor
Mas quando você desistir
Do seu último copo-abrigo
Eu vou insistir
Pois não sou só seu amigo

E com esse falso giz
Ela apenas me diz
Que quando for
O dia iluminando o mar
Eu vou ser areia fria sem luz, nem luar”

Definitivamente meu avô sabia das coisas...
 
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