Passou as costas dos dedos sobre o seu rosto e ficou observando a gota de suor que escorria em direção às pintas da bochecha. Ele conhecia cada pinta daquele corpo perfeito e gostava de "brincar" de ligar os pontos entre cada uma. Adquiriu a mania de caminhar com os olhos sobre as curvas daquela pele. Ele achava que a cor dela deveria estar em cada quadro do mundo.
Ela rolou com preguiça para o lado e ele mordeu gentilmente seu ombro. Ela tinha um gosto doce que ele não conseguia explicar: era uma mistura de prazer, perfume e sabor que ele pensou que deveria estar em todos os pratos do mundo.
Em
um movimento arrastado ela disse:
-
Vou pro banho...
Ele
sorriu com os olhos e ficou admirando ela andar em direção ao chuveiro. No
caminho ela parou para ajeitar um dos quadros de bandas de Rock que lotavam o
quarto dele. Da cama, ele ficou observando como ela contorcia os dedos dos pés
com medo da água fria antes de entrar no chuveiro. Ele achava aquele
"sambar" acanhado dentro do Box, mais atraente que qualquer coisa no
mundo.
Ela
ligou o chuveiro e, de súbito, ele se deu conta de tudo que estava pensando.
Começou a recapitular as memórias até aquele momento. Como se conheceram,
quando foi o primeiro beijo, onde foi a primeira transa etc. Percebeu que não
havia mais volta e que aquela pele morena já havia ocupado um espaço maior que
a sua cama ou o seu quarto. Ela já o havia conquistado por inteiro.
Com
os olhos perdidos na direção da luz fraca que passava pela fresta do banheiro,
começou a pensar se não era melhor acabar com aquela relação. Ele sempre
evitou, sem saber direito o porquê, relacionamentos muito longos. Não deixava
nada se estender além da conta de uma vida que ele não sabia se queria. Gostava
de se permitir aos egoísmos da vida sozinho, como a cama só pra ele e ninguém
mexendo nas suas coisas.
Mas
a cama ficava tão mais interessante com ela nos lençóis... e seu quarto nunca
foi tão arrumado.
Não
importa! É melhor resolver isso de uma vez antes que seja tarde, disse a razão.
Eu
não me importo! Deixe acontecer ao menos uma vez antes que seja tarde, disse o
coração.
Repentinamente
ela gritou do chuveiro:
-
Você não vem?
Ele
sentou sobre as mãos na beira da cama. Olhou para os lados e para o teto, como
se esperasse alguém dar a resposta por ele. Levantou num suspiro preparado para
carregar o mundo nas costas e andando em direção ao chuveiro disse:
-
Mas é claro que eu vou...