domingo, dezembro 27, 2009

Lady Cocaine

domingo, dezembro 27, 2009
Sentado.
Esperando.
Todos os dias naquele mesmo ponto de sempre.
A vida passa com destino errado.
Ainda assim eu faço sinal.
Não aguentei mais esperar.

Cheio de opções.
Desnecessário.
Tudo ao redor me desagrada.
Ela me chama e eu a acompanho pela estrada branca.
Sem destino.
Sem retorno.

quarta-feira, novembro 18, 2009

Esses cariocas não me enganam

quarta-feira, novembro 18, 2009

Sempre tive tendências hipocondríacas. Desde pequeno, minha mãe acostumou-se aos meus ataques desesperados para ir ao médico. Toda vez que eu me via com uma simples mordida de mosquito, cismava ser uma doença genética rara que só eu possuía. Não sei de onde eu tirava essas ideias, mas sempre acreditei que de uma hora pra outra ficaria famoso por um mistério da ciência qualquer que seria descoberto em mim. Obviamente, isso já gerou algumas histórias constrangedoras e não é incomum um ataque de paranóia pra completar a desgraça.

Entre muitas, lembro dessa em particular:
O cenário era um típico carnaval de cidade pequena, no interior de Minas Gerais. Não sei bem porque, mas eu e alguns amigos achamos que seria uma boa idéia se enfiar em uma casa de 10m² com um quarto e um banheiro sem água encanada. Acho que foi a promessa de álcool em abundância e mulher fácil (não precisamente nesta mesma ordem). Aliás, nunca acreditei muito nessa lenda de que carioca consegue o que quiser em qualquer lugar, mas o pior é que é verdade. Lembro perfeitamente do sentimento de sair nas ruas e todo mundo me olhar cochichando, “Olha! Não é aquele menino que veio do Rio?”.

A certa altura, me acostumei em ser a notícia de cidade pequena e comecei a me achar um verdadeiro Rock Star. Nem preciso mencionar que isso gerou alguma facilidade com as mulheres. Facilidade essa muito bem vinda. Afinal, o que poderiam querer seis cariocas no auge da adolescência, livres das amarras dos pais e soltos em uma cidade totalmente estranha? Resposta: sexo.

Confie em mim, não há nada mais engraçado que um bando de loucos ávidos por uma noite com uma estranha qualquer. Os rituais antes de sair para os blocos eram os mais hilários. Um dizia que tal camisa dava sorte e ficava com ela a semana toda sem lavar, outros se cobriam de perfume em todos os cantos (eu disse todos os cantos) e por aí vai. Eu me contentava apenas em estar com uma cueca limpa.
Os dias foram passando (nenhum sem que estivéssemos completamente bêbados) e o carnaval foi chegando ao fim. Começava a surgir uma aura desesperada por sexo no ar, pois até a terça-feira de carnaval apenas dois de nossos amigos haviam conseguido arrastar alguma mulher para casa com sucesso. E eu, que não era um deles, já havia me conformado em voltar pra casa sem a minha dose. Até que tive meus momentos de prazer nos blocos, mas nada que chegasse ao objetivo final do sexo. Como as mulheres estavam se mostrando mais difíceis do que imaginei, coloquei uma cueca suja qualquer e fui pra rua sem me preocupar.
Ironicamente, foi a noite em que consegui o que todos queriam.

Não vou entrar em detalhes desnecessários, até porque não me lembro deles, mas sei que sem precisar usar muitas palavras dei por mim na cama com aquela mulher maravilhosa (eu sei que exagerei, mas a história é minha e você não estava lá pra desmentir). Transamos e enquanto conversávamos me bateu a já conhecida paranóia hipocondríaca e o seguinte pensamento começou a circular minha cabeça sem parar:

“Eu estou em um lugar totalmente estranho. Com uma mulher que eu nunca vi na vida. Não sei de onde ela vem ou o que faz, e não tenho certeza se lembro o nome dela. Puta que pariu! Eu posso ter acabado de transar com a maior puta desta cidade.”

Perceba que eu não me preocupava com a falta de prevenção, sempre uso camisinha. O que me atormentava era o fato de ter ido com a minha boca à lugares que normalmente não se vai com uma desconhecida (você não esperava que eu dissesse que chupei a garota toda, não é?).

Com a certeza perturbadora de uma DST na língua, deixei a pobre coitada falando sozinha e corri pro banheiro pra escovar os dentes. Escovei uma, duas, três vezes. Mas ainda não acreditei ser o suficiente. Desesperado, vasculhei por todo o banheiro algo como desinfetante ou água sanitária, mas não encontrei. Foi então que num ultimo acesso de esperança avistei um vidro de Cepacol. Sem pensar duas vezes entornei o vidro, que para minha infelicidade, alguém havia esquecido aberto e na mesma hora soltei um berro quando o líquido caiu nos meus olhos: “Ah! Esqueci que essa porra tem álcool.”
Meus olhos queimavam de maneira torturante e qualquer tentativa de diminuir o vermelho que eles adquiriram se mostrou em vão.
Lá de fora alguém gritou: “Tá tudo bem aí? Ouvi um grito.” Havia me esquecido completamente da desconhecida lá fora. “Vamos logo. Eu preciso encontrar com algumas amigas.” Disse ela.
Saí do banheiro com medo de parecer um idiota, e tentando ser otimista pensei: “Talvez ela nem repare nos meus olhos”. Quando me viu a primeira coisa que ela disse foi: “O que aconteceu com os seus olhos?”.

Passado o constrangimento, me despedi da provável causadora da minha morte e fui contar a história para os amigos. Curtimos o último dia de carnaval bebendo e rindo da minha cara. No dia seguinte, acordei sendo estapeado por um de meus amigos. Ele me enchia de socos e ponta-pés enquanto gritava: “Acorda filho da puta! Você acabou com o meu Cepacol. Vai ter que comprar outro.”

E lá fui eu, de olhos vermelhos, por uma cidade pequena, à procura de um vidro de Cepacol. Quando saía da farmácia ainda tive tempo de escutar o tiozinho no balcão: “Esses cariocas não me enganam. Com olhos vermelhos assim só pode ser maconha.”

sexta-feira, outubro 16, 2009

Nada mais que um bêbado qualquer

sexta-feira, outubro 16, 2009
“Não! Definitivamente não.” Gritava o homem em um silêncio particular, discutindo com o próprio coração.
“Vamos lá! Dessa vez vai dar certo. Confie em mim.” E o coração respondia.

-Confiar em você? Você só pode estar brincando. Não se lembra do que aconteceu na última vez que confiei em você?

- Ah! Vai dizer que ainda não superou aquela paixão boba e sem sentido?

- Eu não acredito que estou discutindo com o meu coração sobre isso. Você se apaixona por
quem não deve e o resto do meu corpo é que paga o prejuízo. Não como direito, começo a suar
frio quando vejo as mulheres que você se interessa e sinto calafrios só de pensar em falar com
elas.

- Não coloque a culpa em mim. Culpe os olhos, eles é que gostam de enxergar mais do que as
coisas realmente são. Aproveite e culpe a boca também. Alguns beijos nem eram tão bons
assim.

- Não adianta! Não vou cair nesse seu papo de novo.

- Ah, deixa disso. Vai lá, se apresenta e pronto. Conversa um pouco com ela. Se não foi pra isso
que você veio aqui, por que continua frequentando esses bares e boates de solteiros
desesperados?

- Tá bom. Só mais essa vez.

Atravessou a pista de dança em direção a garota (mais uma que o coração, e não a cabeça escolheu). Foi se aproximando desajeitado, fingindo alguns passos da música que tocava no lugar. Puxou assunto:

- Oi! Tudo bom?

- Desculpe, mas não estou interessada.

- Nossa! Mas você não vai nem me dizer o seu nome?

“Prazer. Camila.” Disse ela no meio do cumprimento de mãos mais gelado que a cerveja que ele
segurava. “Não estou interessada.”

Voltou pro banco do bar onde estava sentado. Sentiu que o caminho da volta fora mais difícil e comprido que o da ida. Sentou-se, e reclamando em direção ao peito disse:

- Eu não falei? Sabia que não devia ter dado ouvidos a um músculo idiota.
“Não quero mais falar sobre isso.”, respondeu o coração.

E quem passasse pelo bar e visse a cena do homem falando sozinho, diria se tratar de nada mais que um bêbado qualquer.

segunda-feira, outubro 05, 2009

Pensamentos de última hora

segunda-feira, outubro 05, 2009
"Hummm...na boca ou na cabeça? Na boca ou na cabeça?"
De frente pro espelho era a única dúvida que lhe restava.

Passou a mão pelos cabelos e pensou: "Acho melhor não. Não são meus pensamentos que me pertubam. Não faria sentido."
Ficou admirando o rosto de perfil...um lado, o outro...rangeu e bateu os dentes imaginando o estrago que faria: " Na boca também não. As palavras que machucam são as que ouço e não as que falo. Ninguém entenderia."

Foi então que, quase sem querer, pensamentos que lhe pareciam esquecidos passaram pela cabeça e refletiram uma dor inesperada. E com a mão no peito logo percebeu: "Sim. É isso que me pertuba. É aqui que nasce todo o incômodo. Que seja no peito então."

Calmo e tranquilo...

CLICK... BUMMMM!!!

sábado, setembro 19, 2009

ALGUÉM ME DEPRIMA, POR FAVOR!

sábado, setembro 19, 2009
De uns tempos pra cá sofro de um dilema que não consigo resolver: Só escrevo bem quando estou mal. É quase que um fato. Sou atingido por um bloqueio criativo sem tamanho simplesmente por estar feliz.

Eu sei que parece um desculpa de escritor de 9ª categoria, mas a verdade é que se neste momento entrasse em uma crise de depressão estaria escrevendo 57 linhas por minuto. E nem precisaria de nenhum holocausto ou 3ª Guerra pra isso... Se meu cachorro morresse já bastaria.
Tenho até me esforçado pra escrever boas histórias, mas sempre paro no meio do texto e digo: “Isso tá uma merda!”. Tudo que eu escrevo parece se perder no meio do caminho e não possuir uma gota de profundidade ou interesse.

(In)felizmente nada me faz chorar nos dias de hoje. Não tenho nenhum problema em meus relacionamentos amorosos, meu chefe não passa um dia sem elogiar meu trabalho (que é fazer o que gosto e ganhar pra isso) e mesmo bebendo desregradamente sinto-me um exemplo de espécime humano na mais perfeita saúde. Quando saio de casa não acontece um acidente de carro, não presencio uma briga de rua e não vejo nenhum avião cair (e olha que tem caído muitos ultimamente).

Chego a ter saudade de todos os pés-na-bunda que já levei... Lembro que me sentia como uma máquina de escrever ambulante cada nova vez que me partiam o coração. Talvez o meu segredo para ser um escritor de sucesso seja uma namorada que me traia constantemente, um subemprego de salário mínimo e descobrir que tenho uma doença genética rara e incurável. Enquanto isso não acontece, acho que vou frequentar grupos de auto-ajuda de que não preciso e começar a ler os livros do Paulo Coelho... ALGUÉM ME DEPRIMA, POR FAVOR!

quinta-feira, setembro 10, 2009

Rápidinha: Papo Chato de Chat

quinta-feira, setembro 10, 2009
Garoto conhece garota.
Garoto gosta de garota.Garota não sabe.
Os dois se falam todo dia num chat qualquer de internet.

Mais um dia começa:

Ele: Oi! Tudo bem?

Ela: =D Tudo e vc? Fazendo o q de bom aí?

Ele: Tudo tranks...tô fazendo nd...só ouvindo um som aqui, um rock´roll 80...e vc?

Ela: Tb to ouvindo um som...mas é uma musikinha romântica...pensando em você :)

Garoto gela. Nesse momento ele pensa: “Ela está pensando em mim! Ela está ouvindo uma música romântica pensando em mim! É agora! Vou contar tudo o que sinto e como quero ficar com ela!”

Chat continua:

Ele: Preciso te confessar uma coisa...eu tb tenho pensado muito em vc, quero muito fikar com vc...desde a 1ª vez que t vi...acho que estou apaixonado por vc S2 rs

Ela: HUAHAUAHUAHAUAHAAAUAHUAHA...desculpa...mas acho que vc entendeu errado...

Ele: ?

Ela: “Pensando em você” é o nome da música rsrs...daquela banda... ^.^

Chat se encerra.
Esperança também.

Garoto vai até a cozinha e grita: “Manheeeeeeeee...tem chumbinho aí?”

(Verídico e venéreo)

domingo, agosto 23, 2009

O Mojito Azul

domingo, agosto 23, 2009
O Mojito é uma bebida feita à base de rum e hortelã, que ao misturarem-se com açúcar, limão e uma dose de soda, altera significativamente os estados de consciência de qualquer um, tornando assim, aquela sua prima de 108 kg muito interessante. De origem cubana, não se sabe muito sobre este coquetel de mais de 100 anos, apenas que teria surgido dentro de um navio inglês quando algum desocupado resolveu misturar ingredientes nativos do Caribe com o rum branco. Uma curiosidade sobre o Mojito é que a história de sua origem era contada nos bares de havana por ninguém menos que Ernest Hemingway. Segundo o escritor, o aventureiro Francis Drake foi o primeiro a botar os pés em diversas ilhas do Pacífico Sul, e este por sua vez, teria sido o primeiro a misturar as folhas de hortelã com generosas doses de rum.
Chegado o fim do momento Piratas do Caribe vamos a história do Mojito Azul. (Yo Ho!)

Conheci Zé ainda na época do colégio e logo de cara percebi sua vocação de malandro. Ele parecia ser daqueles que vivia constantemente à procura de um motivo para ser suspenso, mas diferente dos outros, Zé inexplicavelmente sempre conseguia se safar através de sua lábia inconfundivel. Em outras palavras, possuia o talento nato de fazer merda.
Mesmo parecendo um ser detestável, nos tornamos bons amigos. Por trás do sujeito broncudo estava um cara sempre dispoto a ajudar quem precisasse, não tinha medo de acreditar naquilo que achava certo e nunca dedurava ninguém nas confusões infantis que arrumavamos. Uma peculiaridade é que Zé estava sempre correndo atrás de grana e ainda sim estava sempre duro e me pedindo dinheiro emprestado. Logo, em suas tentativas de arrumar “algum”, já havia passado por todo tipo de emprego. Desde vendedor de café com leite na praia a exugador de gelo, de provador de caixão a limpador de bunda de lutador de sumô (juro que essa última existe).

Alguns dias atrás Zé foi Barman em uma festa de 15 anos.

A princípio Zé teria sido contratado como garçom, ou seja, apenas para servir e limpar os restos mortais de quem ficasse até o fim da festa (e acredite... haveriam muitos). No entanto, surge um sujeito de ar desesperado dizendo assim:

- Zé! Você vai ter que ficar no bar. O Dudu sumiu.

- Quem é Dudu?

- O cara que devia tá na porra do bar! Ele tá atrasado e a festa já tá começando. O bar não pode ficar sem ninguém!

- Mas eu não sei fazer nem leite em pó. Como que vou preparar os drinks?

- Se vira! Vai lá pro bar que eu vou procurar aquele filho da puta furão do Dudu.

Mais tarde Zé me contou que a mãe do tal Dudu havia morrido. Aparentemente a velha teria sofrido um enfarte depois de descobrir que ganhou um carro na raspadinha (irônico, não acha?).

Zé agora estava no bar. Começou rapidamente a examinar dezenas de frutas exóticas e garrafas coloridas, na tentativa vã de identificar algum dos drinks de nome estrangeiro no cardápio. Foi quando surgiu o primeiro aspirante a bêbado da festa. Um playboy típico, desses que gosta de misturar whisky e energético.

- Barman! Eu quero um Mojito!

“Fudeu!” Pensou Zé. Como diabos se faz um Mojito?

Zé até tentou ver os ingredientes no cardápio, mas não sabia dizer o quê era o quê e resolveu improvisar. Quando percebeu, já estava misturando umas vinte frutas diferentes, a cachaça, o açúcar e um estranho liquido azul que ele achou que daria um “toque” especial a bebida. Desconfiado, o playboy pegou o copo e deu o primeiro gole:

- Que Mojito é esse?

- Esse aí é o Mojito... Mojito... Mojito Azul, não tá vendo? Respondeu Zé.

O playboy deu mais um gole no copo azulado e chamou um amigo pra perto do bar.

- Cara, tu já bebeu o Mojito Azul?

- Não. Só o cubano.

- Então prova isso aqui.

O segundo playboy virou o copo de uma só vez:

- Porra! Bom pra cacete! Prepara um desses aí pra mim barman. Aí galera, vem experimentar isso aqui!

Quando Zé deu por si, o bar já estava lotado. O boato de uma bebida diferente já havia corrido todo o salão e o coitado ainda estava tentando se lembrar dos ingredientes que tinha posto no drink feito de improviso. Todo mundo queria um Mojito Azul.

A festa estava correndo bem e Zé estava conseguindo se virar apesar de toda a confusão de bêbados implorando pelo seu famoso Mojito. Até que lá pelas três da madrugada aparece Dudu.

- Obrigado por segurar as pontas no bar pra mim cara. Tive uma emergência na família. Como estão as coisas?

- Agora tá tudo bem. O pessoal gostou do meu Mojito Azul.

- Que negócio é esse de Mojito Azul?

- Foi um drink que eu inventei misturando com a cachaça azul que achei no armário.

- Mas eu não guardo as cachaças no armário.

Dudu pegou a tal da bebida azul e deu uma fungada pelo gargalo da garrafa.

- Zé! Seu idiota! Isso é detergente!

No mesmo instante ouviu-se um grito no fundo do salão.

- Socorro! Alguém chame um médico. A aniversariante desmaiou!

Quando Zé e Dudu olharam a sua volta haviam dezenas de pessoas bêbadas no chão, desmaiando e passando mal por todos os lados. A debutante havia bebido generosamente e estava coberta de vômito azul. Os playboys desmaiaram em cima da mesa de salgadinhos, derrubando coxinhas e croquetes pelo salão. O baixista da banda que tocava, vomitou na mãe da aniversariante. Vários convidados caíram na piscina, que havia ficado totalmente azul. Todos que beberam do tal Mojito estavam transformando a festa em um pandemônio. Um verdadeiro inferno azul.

Zé e Dudu fugiram antes que alguém os associasse a confusão.
A festa foi noticiada no jornal como a maior intoxicação alimentar coletiva de que se tem registro. Hoje em dia Zé procura apenas por empregos de carteira assinada e nunca mais chegou perto de um bar.

Moral da história?
Nem sempre está tudo bem quando se está tudo azul.

quinta-feira, agosto 13, 2009

Sobre a Vontade e a Satisfação

quinta-feira, agosto 13, 2009

Quem dera controlasse meus sonhos.

Alimentaria saudade todas as noites.

E todas as noites amanheceriam em vontade.

Vontade de um beijo em uma noite qualquer,

Vontade de um café pela manhã.

E no meio tempo que houver a ausência de dor,

Restará apenas vontade de fazer amor.

Ah! Que vontade de fazer amor com você.

Vontade é algo que dá e passa, mas só passa se saciada.

Mas como saciar o que nunca se consome?

Como satisfazer uma vontade infinita?

Os idiotas me falam de outros braços.

Trocaria o conforto do mundo pelo espaço apertado de um abraço seu.

Os tolos me falam de outras bocas.

Não existem bocas suficientes a preencher o vazio que a falta de um beijo seu me traz.

A vontade tudo suporta porque tudo quer.

Se tudo se quer tudo se pode.

Vontade?

Daquela que vive longe dos olhos, mas mora perto do peito.

Satisfação?

Só em sonho.

P.S: O negócio por aqui anda tão caótico (com trocadilhos por favor) que postei um texto antigo que já havia postado e nem percebi. Exclui o antigo e postei esse no lugar. É brega mas tá valendo.

domingo, junho 28, 2009

O Pêssego, o Vidro e as Pernas.

domingo, junho 28, 2009

Vamos aos fatos:

Fato 1 – Eu odeio pêssego.

Fato 2 – Tenho 7,5 graus de miopia.

Fato 3 – Eu realmente odeio pêssego.

Dados os fatos, vamos a uma breve introdução (sem trocadilhos, por favor):

Conheci Camile de maneira comum e casual. Uma sexta qualquer de uma noite carioca no bairro da Lapa, regada à cerveja e tentativas medíocres de sambar ao som do grupo que tocava debaixo dos arcos.

Ela era linda. Uma loira de 19 anos, olhos claros e que sabia usar o corpo que tinha pra chamar a atenção. E “quê” corpo. Ela estava sambando e todos os olhos da noite estavam concentrados naquelas pernas.

Pensei comigo mesmo: “Preciso conhecer essa mulher.”

Por alguma sorte (ou não), descobri que tínhamos um amigo em comum e pedi que me apresentasse.

- Oi, tudo bem? Será que você me ensinaria a sambar assim?

- Depende. O que eu vou ganhar com isso?

- Bom, tudo o que posso te oferecer agora é minha cerveja.

Ela pegou a garrafa da minha mão, deu um gole daqueles (foi a primeira vez que não fiquei puto por beberem minha cerveja) e começou a dançar com aquele corpo maravilhoso perto do meu. Quando me dei conta, já estávamos nos beijando. Transamos na mesma noite. (Sempre admirei as propriedades facilitadoras do álcool).

Desse dia em diante não consegui mais tirar Camile da cabeça e continuamos nos vendo por mais alguns meses. Tudo estava indo bem até que um dia ela me convidou pra um almoço de domingo em sua casa e me disse querer que eu conhecesse seus pais.

Abro aqui um parêntese: (Nunca tive nada próximo de um namoro até aquele momento. Houve oportunidades, mas eu sempre recusara. Sempre ouvi falar muito bem desse tal de amor, e exatamente por isso sempre o evitei. Os de coração partido com certeza sabem do que estou falando. Achei aquele negócio de conhecer a família muito estranho e me determinei a dizer não. Não deixaria que aquilo desse margem para um eventual relacionamento a dois.). Fecho aqui o parêntese.

- Então? Você vai?

- Vou o quê?

- Almoçar lá em casa no domingo e conhecer meus pais?

- Claro! (Desculpem. Eu não resistia àquelas pernas.)

O domingo chegou e sem muita dificuldade achei o 302 de um luxuoso prédio na zona sul. Era um apartamento grande e suntuoso, com uma vista perfeita daquela estátua gigante com braços abertos. (Sempre me perguntei por que colocaram aquele bloco inútil de cimento de frente pra área nobre da cidade e de costas para a periferia, mas isso já é outra história.)

Quando cheguei, ela já me esperava com um sorriso no rosto e um vestido minúsculo. Primeiro ela me apresentou a mãe: Uma mulher que vagamente lembrava os bons anos da filha, no auge de 46 verões e que parecia ser bem simpática, mas daquelas mães que gostam de ser “moderninha” (digo isso pelas gírias que a dita cuja se forçava a usar na esperança de que eu a achasse “super descolada” ou qualquer coisa do gênero).

Logo depois veio o pai: Grande, gordo, bigodudo, emburrado e com aquela cara de desprezo de quem diz “Então é esse o idiota que está comendo a minha filha?”. Um sogro clássico.

Conversamos á mesa de jantar enquanto comíamos algo que parecia ser uma lasanha.

Estava me saindo bem no teste até que chegou a sobremesa: pêssego em caldas. (Já falei que odeio pêssego?). Não me pergunte por que não consegui recusar. Bem que tentei, mas a desfeita poderia magoar as pernas. Malditas pernas.

Enfrentei as primeiras colheres com muita dificuldade e quando estava quase acabando, a mãe resolveu que eu gostaria de mais (Será que minha cara de nojo não foi convincente?) e foi até a cozinha para buscar a tigela. Camile foi atender ao telefone que tocava no quarto e o pai se escondeu no banheiro logo após a lasanha. Quando dei por mim estava sozinho. Apenas eu e a tigela de pêssego ainda por comer. Eu já não aguentava mais. Foi aí que olhei para o lado e me deparei com uma sacada e o que seria a tentativa de um canteiro com algumas plantas. Pra mim já era suficiente. Percebi que precisava me livrar rapidamente daquele negócio amarelo boiando na tigela à minha frente antes que a próxima rodada chegasse pelas mãos da mãe “moderninha”.

Não pensei duas vezes. Mirei no canteiro e arremessei o pêssego em direção à sacada, até que... BLINDEX! O VIDRO MAIS TRANSPARENTE QUE EU JÁ VI NA VIDA!

A sacada possuía uma porta de vidro que eu, no auge da minha estupidez míope, não havia percebido. Entrei em desespero quando vi aquele pedaço de pêssego escorrendo pelo vidro e num esforço inútil tentei limpar a sujeira que havia feito colocando a prova do crime de volta no pote.

Senti a presença de alguém atrás de mim e quando olhei, o pai estava na porta dizendo: “Se você não queria... era só falar.” E virou-se gritando pelo corredor: “Filha, vem ver o que o idiota do seu namorado fez.”

Nem preciso dizer como ficou a minha cara ao ver a mãe limpando a porta de vidro enquanto eu ia embora me humilhando em desculpas.

Vi Camile mais duas vezes depois disso, mas o encanto definitivamente acabou. Acho que ela não conseguiu mais olhar para mim sem pensar: “Você é idiota ou o quê?”

Não sou idiota. Sou apenas um cego que odeia pêssego e que quando tentou deixar uma boa impressão, acabou manchando a janela.

Ah! Que saudade daquelas pernas.

segunda-feira, maio 04, 2009

Sou corno, mas sou foda

segunda-feira, maio 04, 2009

Foi então, que entre o papo sobre o futebol, e a primeira “última rodada”, resolvi durante um estranho acesso de bom humor contar esta história.

É uma daquelas histórias do estilo “aconteceu com um amigo de um amigo meu...”, que aparentemente não tem muito sentido, mas vale à pena ser contada pela moral (ou falta de uma) que transmite quando se termina de contar. Como sempre, tentei ser o mais imparcial possível, e se deu mais ou menos assim:

Fulano (não vejo necessidade de citar nomes) estava para se casar com Marcelinha (citarei apenas esse pelo prazer de difamar a pessoa). Fulano havia pedido Marcelinha em casamento da maneira mais romântica possível: durante uma reunião com todos os parentes e amigos na segunda melhor pizzaria da cidade, declamando os melhores clichês que conhecia e cantando sucessos dos anos 80 no Karaokê. Ela sem saber direito porque, disse o fatídico “Sim”.

Os sete meses e meio que se seguiram até o casamento foram tranquilos, os preparativos estavam indo bem e o pai da noiva, seguindo a tradição, iria bancar a festa (por favor, que o “bancar a festa” fique bem grafado. Depois perceberão por que.)

Fulano não era de ter ciúmes e amava Marcelinha incondicionalmente. Portanto, foi somente quando alguns amigos começaram a comentar, que ele percebeu que o chopinho de sexta de marcelinha com as amigas, havia se tornado o chopinho de sexta, sábado, domingo e todo o resto da semana.

Cismado com aquilo, e por sugestão de algum amigo intrometido (leia-se com tom de ironia), resolveu colocar um detetive atrás da própria noiva.

Mal sabia ele o erro que tinha cometido. Quando descobriu a verdade, se arrependeu por não ter deixado as suspeitas de lado e continuado a viver sua ignorância feliz. Marcelinha o estava traindo com um dos padrinhos do casamento. O detetive havia lhe trazido fotos de Marcelinha que comprovavam o adultério. Eram dezenas de fotos dos dois traidores nas mais diversas posições sexuais, algumas delas que fulano inúmeras vezes pediu pra sua noiva fazer, mas ela sempre se recusava (nem preciso dizer a quantidade de xingamentos e palavrões que lhe vieram à cabeça enquanto via as fotos).

O detetive viu aquele homem desolado, que pareciam ter lhe arrancado o coração, foi em sua direção e perguntou: “O que o senhor irá fazer agora?”

Fulano de súbito levantou-se da cadeira, pagou ao homem pelas fotos e saiu batendo a porta sem dizer nada. Ele havia acabado de ter a idéia mais brilhante de todos os tempos.

Finalmente chegou o dia do casamento.

Marcelinha estava muito contente, pois este seria um casamento de fazer inveja em todas as suas amigas desesperadas para pegar o buquê. Tudo estava perfeito: todas as flores estavam no lugar, todos os convidados já haviam chegado, a festa já estava pronta para depois do casório e até o momento ninguém havia acusado o padre de pedofilia.

Quem passava na porta da igreja percebia facilmente que aquele casamento entraria para a história do orçamento da família Souza, mas o pai da noiva insistia em dizer que cada centavo valera à pena. Estava orgulhoso em poder oferecer um casamento a altura de sua “princesinha” e um banquete para todos os 500 convidados (desculpe, mas eu sempre rio desta parte.)

A cerimônia foi perfeita. Fulano, durante os votos, foi comovente como só os bregas românticos sabem ser e as tiazonas da primeira fila seguraram bem o choro. Porém, o ponto alto da noite foi a festa depois do casamento, quando finalmente em seu tradicional discurso, o noivo fez-se ouvir assim:

- “Meus amigos, gostaria de agradecer a presença de todos. Estou muito feliz por estarem aqui. E para agradecer a todos que vieram me prestigiar neste dia tão importante da minha vida, tenho um presente para cada um de vocês.”

Neste momento ninguém entendeu nada, mas começava ali a vingança de Fulano.

- “Sim! Um presente que tenho certeza que irão gostar. Peço, por favor, que verifiquem em baixo de suas cadeiras, onde cada um encontrará um envelope.”

No verso do envelope constavam apenas cinco palavras simples que nunca se encaixaram tão perfeitamente em uma frase.

Ao abrir os envelopes, cada convidado pode ver dezenas de fotos da noiva sentada, de lado, de quatro e em posições que você nem imagina. Todos ficaram de boca aberta olhando para Marcelinha que não acreditava no que estava acontecendo. O salão de festas havia se transformado em um verdadeiro caos. A Mãe da noiva xingava a filha, enquanto tentava socorrer o marido que estava tendo um ataque do coração (qualquer um teria um enfarto fulminante ao lembrar de todo o dinheiro que gastou apenas para descobrir que a filha era uma vagabunda.). O padrinho cúmplice da traição fugiu na hora. Uma das tias da noiva morreu engasgada com um croquete de camarão ao ver o “tamanho” do escândalo nas fotos. As crianças choravam pensando nos anos de análise que teriam que fazer. O padre foi pego correndo para o banheiro com as fotos e algumas outras coisas na mão. Havia gente gritando e alguns até roubando os presentes do casamento. No meio disso tudo apenas um homem estava sorrindo e se divertindo: Fulano. Ele estava se deliciando com tudo aquilo e ficaria ali contemplando sua obra de arte por mais algum tempo.

Depois do acontecido e com o casamento anulado, fiquei sabendo que o pai de Marcelinha a deserdou e ela foi obrigada a morar com alguns parentes distantes (que não foram convidados para o casamento, obviamente.)

Fulano, pela ultima vez que ouvi falar, está feliz. Arrumou uma nova namorada e não pensa mais em se casar.

Ah! Ainda quer saber as cinco palavras que estavam no verso do envelope?

“SOU CORNO, MAS SOU FODA.”

sábado, abril 18, 2009

Desabafo do Otimista

sábado, abril 18, 2009
Nunca entendi essas pessoas que reclamam da falta de amor. Pra mim não passam de um bando de idiotas que não sabem a sorte que possuem por não ter amor em suas vidas. Uns sofrem e até se matam por causa desse vazio que dizem ser a falta de amor.
Pois eu confesso sofrer de um problema maior. Eu sofro de alegria. Sofro de um amor imenso e uma satisfação constante. Tenho dentro de mim amor suficiente para cobrir o mundo, mas simplesmente não quero. Meu problema é amar algo que eu não sei o que é. Amo muito e morreria por esse amor, mas eu o desconheço. Não tenho nada nem ninguém para dedicar esse amor. Nenhuma causa, nenhuma pessoa.
Sou a mistura de um palhaço de circo com Peter Pan, vivendo no mundo dos ursinhos carinhosos e vítima de uma overdose de êxtase 24h por dia.
Por que eu não me matei ainda? Infelizmente não consigo nem pensar em suicídio. Eu tento mas não consigo. Acredito que só os infelizes e insatisfeitos possuem a felicidade de pensamentos assim. Morro de inveja dos góticos e maníacos depressivos.
Todos os dias eu escrevo as mesmas coisas nestas páginas, todo dia eu me pergunto e me desespero: "Por que eu sou tão feliz sem motivo? Por que sou tão otimista? por quê? Cadê a porra do meu moinho de vento?"

quarta-feira, abril 01, 2009

Era uma vez um Platão...

quarta-feira, abril 01, 2009
“Com certeza essa é a pior briga que já tivemos”.

Era o que ele pensava enquanto ouvia sua namorada gritar em mais uma crise de ciúmes. Não conseguia prestar atenção em uma só palavra de tudo que ela resmungava. Seus ouvidos se fecharam assim que ela começou a remoer brigas antigas e ex-namoradas. Seus olhos fitavam apenas aquela veia estranha que aparecia em seu pescoço sempre que ela ficava nervosa. Ele gostava daquela veia.
Todas as brigas do casal giravam em torno do fato de ele estar sempre no mundo da lua, vagueando o olhar e pensando na existência de sei lá o quê.
Infelizmente, ela nunca entendia que sempre que ele parecia estar perdido em pensamentos, estava pensando em apenas uma coisa. Ela.

Gostava de reparar nos detalhes da mulher que amava. De como ela era linda até de toalha na cabeça após o banho, de como seu cabelo solto caía sobre os ombros e de como seus olhos se apertavam quando ela sorria. Sempre teve problemas com essa mania de fugir de si. Seu problema maior fosse talvez ser poeta. Ser um sonhador. E ele sentia-se culpado por ela nunca o entender. Nem ele se entendia.

Ele a amava muito. Nem se lembrava mais o porquê daquela discussão. “Volte à realidade, seu idiota. Ouça o que ela diz. Deixe de ser um sonhador. De uma vez por todas, deixe de ser um sonhador. Nossa! Essa coisa vai estourar a cabeça dela.” Ele tentava se resgatar para si.

Foi quando em um estranho baque de silêncio que ele voltou à realidade. E ela dizia:

- Então? Não vai falar nada? Vai ficar aí me olhando com essa cara de idiota?

- Hã? Desculpe. Não escutei.

- Você ainda me ama ou não?

E sem saber de onde, surgiram estes versos entre seus lábios:

“Eu não te amo por ser tudo o que eu não sou
Você é o melhor e o pior em mim
Eu não te amo por ter sido quem me curou
No peito a cicatriz leva nome de amor

Eu não te amo por cada segundo que desejo que seja uma eternidade
Ainda que do teu lado, sou escravo do tempo e da realidade
Eu não te amo por amar o vento da tua beleza
Ele insiste em mover o moinho da minha tristeza

Eu não te amo pelo instante em que descobri o amor
Pois no mesmo instante eu conheci a dor
Eu não te amo pela inocência da amizade

Essa já está perdida, mas ainda me traz a saudade
Eu te amo simplesmente porque você nunca me disse:
Eu te amo.”

Os olhos se refletiram um no outro durante meio segundo eterno e ela disse:

- Hã? O que isso quer dizer?

- Nada... Deixa pra lá.

quinta-feira, março 19, 2009

O Ser / Não-ser

quinta-feira, março 19, 2009
O ser se encontra completo quando se torna antagônico em si
É preciso ser tudo e é preciso ser nada
É preciso ser tudo em si e nada para si
Só o coração inerte em escuridão sabe contemplar a luz
Os olhos que nunca viram o desespero não saberão reconhecer um momento de felicidade
Assim como os ouvidos que nunca ouviram uma mentira não irão perceber o valor da verdade
A boca que nunca proferir uma palavra de ódio dificilmente saberá dizer eu te amo
É preciso ter dois braços, um forte para saber bater e um fraco para saber acariciar
É necessário ter duas pernas, a perna da emoção pra poder ir e a da razão pra saber a hora de voltar, preferir uma à outra é simplesmente estupidez. É se aleijar por opção. É não querer andar
Ser e se permitir não-ser
Pois o ser se encontra completo quando se torna sinônimo de si
Quando ser e não-ser significam uma coisa só: humano

segunda-feira, março 02, 2009

Pequeno Conto de um Amor Literalmente Cego

segunda-feira, março 02, 2009
Sem querer soar irônico, mas foi realmente amor a primeira vista. Pelo menos para Renato, já que, Ana havia perdido a visão na infância, graças a uma mãe descuidada e uma panela de óleo quente. Há anos ela tentava um transplante, mas a fila de espera era enorme e as chances de um doador compatível eram cada vez mais remotas. Com o tempo as esperanças diminuíram (já percebeu que a esperança é a última que morre, mas é a primeira a querer se suicidar?).
Renato era um homem de hábitos simples, sem muitos amigos, muito inteligente, mas de um coração tão impulsivo quanto inocente. Um típico sonhador que ainda acreditava em amor.
Os dois se conheceram de maneira comum, não houve nada de especial, se esbarraram no meio de uma avenida no centro e ela precisava de alguém para ajudá-la a atravessar a rua.
O que nenhum dos dois esperava foi o estranho sentimento subindo pela espinha quando os braços se entrelaçaram. Uma sinfonia de dois corações, um frio que de repente tremia as pernas e um calor que esquentava as mãos. As batidas no peito eram marcadas a cada novo passo, em uma sintonia inesperada com a faixa de pedestres. A partir daí os braços não se soltaram mais.
Ele decidiu levá-la a um bar ali perto. Não era grande coisa, mas ele pensou consigo mesmo: “Ora essa, ela cega! Desde que não sinta o horrível cheiro de suor dos ambulantes e não ouça os palavrões dos trocadores de ônibus, está tudo bem.”
Beberam e conversaram a tarde toda. Trocaram telefones, endereço, Orkut e etc. Começaram ali um romance que duraria alguns meses sem maiores problemas.
Depois de algum tempo e declarações de amor de ambas as partes, Renato resolveu pedir Ana em casamento. Ela recusou.
Foi pior que um tapa na cara (todo homem sabe que depois de um chute no saco, nada dói mais que um tapa na cara. Acho que é alguma besteira a ver com o ego).
Ele não entendia o motivo. Em todas as vezes que ensaiou o pedido diante do espelho, isso nunca aconteceu. O final que imaginava era sempre feliz e nem em seus piores pensamentos aquele “não” lhe passou pela cabeça. Ele tentava argumentar e ela dizia:

- Eu te amo. Muito. Mas não quero ser um fardo para você. Minhas chances de voltar a enxergar são mínimas e não vejo futuro para nós se eu continuar desse jeito. Gostaria de poder acordar pela manhã e olhar seu rosto, mas infelizmente acho que isso nunca vai acontecer. Nunca!

- Mas...

Ela permaneceu irredutível. Ele, frustrado, bateu a porta e foi caminhar pela rua. Ficou horas pensando naquela discussão, imaginando e refazendo os lábios da mulher que amava dizendo aquele terrível “não”... “Não!”
Não! Ele não podia aceitar, não ficaria sem a mulher que amava. Correu para casa com aquele único e estúpido pensamento na cabeça. Infelizmente não havia nenhum amigo por perto para fazê-lo mudar de idéia.

Alguns meses já haviam se passado e Ana não teve mais notícias de Renato após aquela discussão.
Ela possuía um misto de preocupação e felicidade, pois não via a hora de encontrá-lo e contar as novidades. Queria lhe contar que naquele mesmo fatídico dia, havia recebido um telefonema, dizendo que surgira um doador inesperado e poderia fazer o transplante pelo qual esperou tantos anos.
A cirurgia havia sido um sucesso. Agora ela podia enxergar o mundo e todas as suas cores, agora ela poderia vê-lo todas as manhãs e lhe amar por inteiro. Agora ela lhe diria sim.

Neste instante alguém bateu à porta. Era Renato.

- Vim lhe pedir novamente em casamento. Sei que você voltou a enxergar e agora não será mais um fardo para mim. Você vai poder me ver todas as manhãs e eu te amarei para sempre, como ninguém nunca amou alguém. Casa comigo?

- Mas... você é cego!?

- Sim. E daí?

- Eu não posso aceitar. Desculpe. Não sabia que você era cego também. Acho que agora que voltei a ver o mundo em toda a sua alegria e perfeição, não conseguiria viver com você. Não posso viver ao lado de alguém que me lembre tanto esta vida de escuridão que quero deixar no passado. Não posso carregar esse fardo. Não posso casar com você.

- Mas...

- Você entende, não?

- Não. Não entendo. Mas será que você pode me fazer apenas um favor?

- Sim, claro.

- Viva a sua vida intensamente. Viaje o máximo que puder, veja todas as maravilhas do mundo e explore todas as suas formas e possibilidades. Aproveite bem os MEUS olhos!

Deu as costas e nunca mais se viram. Literalmente.

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

O Cão

quarta-feira, fevereiro 04, 2009
Havia acabado de tomar um pé da namorada, e logicamente, antes de ir pra casa procurar chumbinho no armário, passou no bar de costume pra tentar se afogar em um copo que parecia constantemente vazio.
Percebeu em um segundo momento, um pequeno cachorro sentado na calçada que parecia lhe encarar insistentemente.

Foi até o canino e lhe recitou estes versos enquanto apontava para a rua:

“Essa estrada é a mais estreita e curta que existe. Entre a ignorância e a razão, um passo a frente é verdade e um passo atrás é ilusão.
Nessa estrada, o coração parou, e voltou. Feliz por estar no começo da jornada, alheio à tristeza de conhecer o nada.
Nessa estrada eu corri, eu tropecei, eu caí, mas não percebi que quanto mais andava mais distante o horizonte ficava.
E sempre me perguntei. Se não escolhi caminhar, o que faço nessa estrada?”

O Cão respondeu:

“Não sei. Somos apenas os felizes escravos da ordem, contempladores da ignorância, amantes da ilusão que sem o beneficio da dúvida estamos à parte da tristeza de pensar. E de olhos fechados aproveitamos melhor o mundo que nos deram.”

Voltou ao bar, encarou o garçom e disse:
“Desce mais uma que eu ainda não estou bêbado!”

quinta-feira, janeiro 29, 2009

Soneto da Janela

quinta-feira, janeiro 29, 2009
Todo dia ela passa à minha janela, linda e bela, eu somente a acenar
Saberá ela a alegria que me dá quando me desvia apenas o seu olhar?
Não importa como ou desde que dias a conheço
O passar, o olhar e o acenar talvez sejam só o que mereço

Hoje ela não passou e o que teria acontecido logo me preocupou
Sem medo do esquecimento ou da morte, só de outro que tenha a minha sorte
Eu estava certo e a encontrara ao lado de outrem
Um bem aventurado que destruiu meu amor com desdém

Mas outro dia, a outros olhos meu peito triste fitou
E não mais amargurado, meu coração disparou
E o que me acontecia eu até então não entendia

Mas ela à minha janela também passou, olhou e acenou
Então percebi o que sempre me marcou, o “quem” realmente não importava
O importante era ela, a mais linda e bela, somente ela... A minha janela.

domingo, janeiro 25, 2009

Versos de Murphy

domingo, janeiro 25, 2009
Entre tantos escolher o pior
Mesmo com todas as chances se sente menor
Sua estrela está sempre apagada
Há mais acidentes em sua estrada
Não pode voar
Em seu céu sempre chove
Não sabe nadar, apenas um corpo que não se move
Se tentasse sonhar não iria dormir
Com pesadelos já vai desistir
Sempre em passos desesperados
Troca as pernas em um espelho quebrado
Se reconhece em cacos
Não desiste, mas insiste
Em se desfazer do passado
Se perde ao lado do rio
Seu atalho é seu longo caminho
Na hora certa e no lugar errado
Outro espelho e outro papel trocado
Sempre rindo da própria sorte
Um acaso que se desfaz em pena de morte
Quando as cartas já estão dadas
Meu amigo está na mesa errada
Seus grandes momentos em pequenos instantes
Sempre correndo em vão, salvar o perdido no antes
Ninguém estende a mão no mundo dos gigantes

quinta-feira, janeiro 22, 2009

Colóquio entre o filósofo e o poeta

quinta-feira, janeiro 22, 2009
Prefácio:
Sempre foi difícil definir filosofia e poesia, pois além de artes, são quase sentimentos e como qualquer sentimento, não se define em si ou em palavras.
Já foi dito que “poesia é a arte de costurar abismos com palavras”, sendo assim, digo que filosofar é a arte de suicidar-se em tais abismos, onde o primeiro contato com o chão e com a morte é o mesmo instante que tange uma nova vida. Uma nova realidade em busca de uma verdade menos confortável, porém mais confiável.
Ao final o que importa é quanto de areia corre na ampulheta enquanto você cai, e principalmente porque você pula.
- - - - - -
Poeta: eu já escrevi sobre o implacável tempo.

Filósofo: eu não temo o tempo, ele é um dos meus melhores amigos, pois me cura as feridas, me faz esquecer e aprender. Não vou fugir dele, apenas esperar ele me encontrar.

Poeta: eu já escrevi sobre a morte.

Filósofo: também não temo a morte. Não há porque temer algo que não pode existir enquanto eu sou, “ela’’ só vai ser quando eu não for mais. Temo o que me dói e não o que nunca vou sentir.

Poeta: eu já escrevi sobre Deus.

Filósofo: você não deveria se preocupar tanto com coisas que você não sabe se existem.

Poeta: eu já escrevi sobre o amor.

Filósofo: amor sempre rimou com dor. Tanto na sua ausência quanto na sua presença, porém dor que um cético como eu nunca vai sentir, portanto admitindo a derrota, digo que nunca vivi um amor de verdade e você, por ilusão ou não, o sente ainda que na saudade.

Poeta: sendo assim pague a aposta!

Filósofo: está bem. Garçom? Mais cerveja, por favor.

sexta-feira, janeiro 16, 2009

A Barbearia

sexta-feira, janeiro 16, 2009
Desde que me conheço por gente (não que isso signifique alguma coisa) o barbeiro Zé sempre cortou meu cabelo. Quando pequeno lembro que minha mãe gostava de ficar rodando comigo por aí, atrás de “alguém que tenha o corte do seu cabelo” dizia ela enquanto entrava em um novo salão. Eu sei que isso parece meio idiota (e realmente é), mas você há de convir comigo que com sete anos e meio não se pode fazer muita coisa além de espernear.
Até que um dia, depois de um desses acessos maternais (admiro-me de não ter crescido complexado), entrei na barbearia do Zé e pela primeira vez não xinguei minha mãe por me tirar da frente da TV na hora do Chaves.
O corte era exatamente o mesmo, igual a todos os outros. Mas o lugar... ah! Esse sim me encantou. Convenci minha mãe que a partir daquele dia, se ela quisesse que eu cortasse o cabelo, teria sempre que me levar na barbearia do Zé, do contrário faria uma greve de fome. Depois de um tempo passei a ir sozinho.
Era uma típica barbearia que ficava no centro do bairro, com um letreiro simples e mal arrumado, não mais que três cadeiras em frente a um espelho e paredes com mofo suficiente pra dar inveja naquele queijo fedorento e de nome esquisito. No rádio nunca tocava nada mais que uma voz e um violão, pois a música mais importante era a sinfonia das tesouras e navalhas, nesse caso a bossa caía muito bem. Mas o que realmente chamava atenção era o barbeiro Zé. Uma figura marcante, com traços tipicamente brasileiros, ou seja, um nariz fino que dizia ter herdado da mãe francesa, olhos negros e cerrados de algum parente índio, uma cabeleira grande como só os italianos têm e branco como só os portugueses sabem ser.
Zé adorava contar suas estórias enquanto dava uma de barítono com o pente na mão. Falava do orgulho de ter servido seu país, de ter sido um pára-quedista de sucesso e que raspava a cabeça dos novatos que entravam no quartel (provavelmente foi nessa época que descobriu a vocação). Interessantes também eram os amigos de Zé que vez em quando apareciam apenas para papear, até porque na maioria deles já não restava muito cabelo (sempre me perguntava o que tantos carecas faziam em uma barbearia), eram aqueles simbólicos coroas que depois de uma tarde jogando damas na praça, saiam à caça de ouvidos jovens para falar dos tempos antigos, com coisas do tipo: “Na minha época eu jogava muita bola” ou “Na sua idade eu tava comendo todas as menininhas” e etc. Sempre achei engraçado como nos lembramos de alguns fatos de maneira totalmente diferente de como realmente aconteceram, talvez seja apenas um dos sintomas da idade explicado psicologicamente. Pra mim é apenas a mente que gosta de se lembrar das coisas da maneira que melhor convém.
Lembro de um italiano que dizia ter vindo pro Brasil refugiado após a guerra e de um brilho diferente que seus olhos iam ganhando enquanto falava. Na época achava que era apenas saudade, hoje acredito que aquele brilho era fruto dos horrores que com certeza seus olhos haviam presenciado.
Depois de muitos anos frequentando a Barbearia do Zé, me dei conta de como todas aquelas conversas à toa me influenciaram, me deram tanto gosto por escrever e moldaram minha percepção e formas de ler o mundo. Infelizmente hoje, durante mais uma visita para tirar o cabelo dos olhos, percebi também algo que acho nunca quis acreditar.
Os olhos de Zé estão mais cerrados que o normal, seus cabelos são poucos e brancos e a pele está cada vez mais flácida. O pente e a tesoura já não se erguem com tanta facilidade e a voz rouca já não consegue contar estórias como antes. Olhei duas figuras no espelho à minha frente, em primeiro plano estava eu, jovem e com muito tempo pela frente. Em segundo plano estava Zé, castigado pelos anos que se passaram e temendo os próximos, de tempo curto e contado. Nesse momento me peguei ditando versos improvisados pro meu próprio reflexo:

“Bendito seja o maldito tempo
Que leva todos os meus amigos
E me deixa sozinho... comigo
Mas ainda assim
Ele é meu mais fiel companheiro
Pois cura minhas feridas,
E me faz esquecer, portanto aprender
Tempo otimista
Que não me envelhece
Me evolui
E naquela última hora apenas em alegria se despede
Zé está cansado”

Entendi então que no grande esquema do tempo, Zé era apenas mais uma dessas pessoas ou coisas que de passagem pela nossa vida, nos marcam de uma maneira que a princípio não percebemos, mas depois nos damos conta de que não seríamos o que somos sem elas. Percebemos como o caos às vezes destrói para construir algo maior.
E saindo da barbearia após lhe dar a gorjeta de costume, olhei para trás e ao ver Zé me acenando, me perguntei: “E agora? Onde vou cortar meu cabelo?”

terça-feira, janeiro 13, 2009

Prefácio de uma tragédia

terça-feira, janeiro 13, 2009
Eu não consigo dormir.
Meu corpo pede insistindo em me lembrar de tudo que o obriguei a fazer essa noite, mas simplesmente não consigo fechar os olhos.
Não sei direito o que está acontecendo, mas é como se um nascer do sol constante transbordasse em mim, e a cada piscada que dou, um crepúsculo me fizesse perceber um novo detalhe em seu rosto.
- Dois segundos atrás seus lábios não estavam deste jeito.
- Cinco segundos atrás esta pinta não estava aqui.
Sorte teriam os anjos se eu morresse agora, pois me ouviriam falar da última coisa que meu olhos fitaram.
Ao vê-la se encolher com o frio, eu a cubro e logo digo ao vento:
- Sai fora. Sou o único que tem o privilégio de soprar por este corpo.
Ela riu mesmo sem me ouvir direito e percebi finalmente o que houve.
Apenas alguns minutos atrás me ocorreu aquele sentimento do qual os sábios alertam e os idiotas tanto falam.
Então comecei a falar também.

quinta-feira, janeiro 08, 2009

O Verdadeiro Equilíbrio

quinta-feira, janeiro 08, 2009
O verdadeiro equilíbrio não deve estar no meio e sim no começo e no fim, quase que simultaneamente, com a mesma intensidade e na mesma quantidade.
O equilíbrio se dá exatamente através dos extremos opostos, das forças mais antagônicas existindo em momentos diferentes e em mesmo número.
É aí que se encontra o problema. Conseguir preencher a vida com o mesmo número de tristezas e alegrias. Ficar no meio disso seria não ser triste e não ser alegre, ou seja, seria não viver.
Por mais estranho que pareça, o verdadeiro equilíbrio é ter todos os sentimentos em excesso, em exagero. É preciso amar, rir e pular tanto quanto se odeia, se chora e se cai. O individuo que permanece no meio-termo disso se auto-aliena de qualquer sentimento.
Ao atingir esse equilíbrio passa-se a apreciar cada momento de dor com a certeza de que este corresponde a um momento de prazer de mesma intensidade, apenas esperando acontecer ou simplesmente já conhecido.
Por que quando rimos tentamos apreciar a fugacidade do momento e na hora da dor, o que se escolhe é permanecer sofrendo?
Quando se alcança o equilíbrio compreende-se que ambos os sentimentos são iguais, estando apenas em momentos e direções diferentes. Portanto sinta os opostos com a mesma intensidade. Aceite a dor e continue, não sofra. Mas se sofrer, quando for rir não se esqueça de dar uma boa gargalhada.

Epílogo:
O poeta William Blake disse certa vez: “A estrada do excesso leva ao palácio da sabedoria”. Ele apenas esqueceu-se de dizer que o excesso é reflexo do equilíbrio. Não o equilíbrio de estar, mas sim o equilíbrio de ser.
 
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