domingo, agosto 23, 2009
O Mojito Azul
Chegado o fim do momento Piratas do Caribe vamos a história do Mojito Azul. (Yo Ho!)
Conheci Zé ainda na época do colégio e logo de cara percebi sua vocação de malandro. Ele parecia ser daqueles que vivia constantemente à procura de um motivo para ser suspenso, mas diferente dos outros, Zé inexplicavelmente sempre conseguia se safar através de sua lábia inconfundivel. Em outras palavras, possuia o talento nato de fazer merda.
Mesmo parecendo um ser detestável, nos tornamos bons amigos. Por trás do sujeito broncudo estava um cara sempre dispoto a ajudar quem precisasse, não tinha medo de acreditar naquilo que achava certo e nunca dedurava ninguém nas confusões infantis que arrumavamos. Uma peculiaridade é que Zé estava sempre correndo atrás de grana e ainda sim estava sempre duro e me pedindo dinheiro emprestado. Logo, em suas tentativas de arrumar “algum”, já havia passado por todo tipo de emprego. Desde vendedor de café com leite na praia a exugador de gelo, de provador de caixão a limpador de bunda de lutador de sumô (juro que essa última existe).
Alguns dias atrás Zé foi Barman em uma festa de 15 anos.
A princípio Zé teria sido contratado como garçom, ou seja, apenas para servir e limpar os restos mortais de quem ficasse até o fim da festa (e acredite... haveriam muitos). No entanto, surge um sujeito de ar desesperado dizendo assim:
- Zé! Você vai ter que ficar no bar. O Dudu sumiu.
- Quem é Dudu?
- O cara que devia tá na porra do bar! Ele tá atrasado e a festa já tá começando. O bar não pode ficar sem ninguém!
- Mas eu não sei fazer nem leite em pó. Como que vou preparar os drinks?
- Se vira! Vai lá pro bar que eu vou procurar aquele filho da puta furão do Dudu.
Mais tarde Zé me contou que a mãe do tal Dudu havia morrido. Aparentemente a velha teria sofrido um enfarte depois de descobrir que ganhou um carro na raspadinha (irônico, não acha?).
Zé agora estava no bar. Começou rapidamente a examinar dezenas de frutas exóticas e garrafas coloridas, na tentativa vã de identificar algum dos drinks de nome estrangeiro no cardápio. Foi quando surgiu o primeiro aspirante a bêbado da festa. Um playboy típico, desses que gosta de misturar whisky e energético.
- Barman! Eu quero um Mojito!
“Fudeu!” Pensou Zé. Como diabos se faz um Mojito?
Zé até tentou ver os ingredientes no cardápio, mas não sabia dizer o quê era o quê e resolveu improvisar. Quando percebeu, já estava misturando umas vinte frutas diferentes, a cachaça, o açúcar e um estranho liquido azul que ele achou que daria um “toque” especial a bebida. Desconfiado, o playboy pegou o copo e deu o primeiro gole:
- Que Mojito é esse?
- Esse aí é o Mojito... Mojito... Mojito Azul, não tá vendo? Respondeu Zé.
O playboy deu mais um gole no copo azulado e chamou um amigo pra perto do bar.
- Cara, tu já bebeu o Mojito Azul?
- Não. Só o cubano.
- Então prova isso aqui.
O segundo playboy virou o copo de uma só vez:
- Porra! Bom pra cacete! Prepara um desses aí pra mim barman. Aí galera, vem experimentar isso aqui!
Quando Zé deu por si, o bar já estava lotado. O boato de uma bebida diferente já havia corrido todo o salão e o coitado ainda estava tentando se lembrar dos ingredientes que tinha posto no drink feito de improviso. Todo mundo queria um Mojito Azul.
A festa estava correndo bem e Zé estava conseguindo se virar apesar de toda a confusão de bêbados implorando pelo seu famoso Mojito. Até que lá pelas três da madrugada aparece Dudu.
- Obrigado por segurar as pontas no bar pra mim cara. Tive uma emergência na família. Como estão as coisas?
- Agora tá tudo bem. O pessoal gostou do meu Mojito Azul.
- Que negócio é esse de Mojito Azul?
- Foi um drink que eu inventei misturando com a cachaça azul que achei no armário.
- Mas eu não guardo as cachaças no armário.
Dudu pegou a tal da bebida azul e deu uma fungada pelo gargalo da garrafa.
- Zé! Seu idiota! Isso é detergente!
No mesmo instante ouviu-se um grito no fundo do salão.
- Socorro! Alguém chame um médico. A aniversariante desmaiou!
Quando Zé e Dudu olharam a sua volta haviam dezenas de pessoas bêbadas no chão, desmaiando e passando mal por todos os lados. A debutante havia bebido generosamente e estava coberta de vômito azul. Os playboys desmaiaram em cima da mesa de salgadinhos, derrubando coxinhas e croquetes pelo salão. O baixista da banda que tocava, vomitou na mãe da aniversariante. Vários convidados caíram na piscina, que havia ficado totalmente azul. Todos que beberam do tal Mojito estavam transformando a festa em um pandemônio. Um verdadeiro inferno azul.
Zé e Dudu fugiram antes que alguém os associasse a confusão.
A festa foi noticiada no jornal como a maior intoxicação alimentar coletiva de que se tem registro. Hoje em dia Zé procura apenas por empregos de carteira assinada e nunca mais chegou perto de um bar.
Moral da história?
Nem sempre está tudo bem quando se está tudo azul.
quinta-feira, agosto 13, 2009
Sobre a Vontade e a Satisfação
Quem dera controlasse meus sonhos.
Alimentaria saudade todas as noites.
E todas as noites amanheceriam em vontade.
Vontade de um beijo em uma noite qualquer,
Vontade de um café pela manhã.
E no meio tempo que houver a ausência de dor,
Restará apenas vontade de fazer amor.
Ah! Que vontade de fazer amor com você.
Vontade é algo que dá e passa, mas só passa se saciada.
Mas como saciar o que nunca se consome?
Como satisfazer uma vontade infinita?
Os idiotas me falam de outros braços.
Trocaria o conforto do mundo pelo espaço apertado de um abraço seu.
Os tolos me falam de outras bocas.
Não existem bocas suficientes a preencher o vazio que a falta de um beijo seu me traz.
A vontade tudo suporta porque tudo quer.
Se tudo se quer tudo se pode.
Vontade?
Daquela que vive longe dos olhos, mas mora perto do peito.
Satisfação?
Só em sonho.
P.S: O negócio por aqui anda tão caótico (com trocadilhos por favor) que postei um texto antigo que já havia postado e nem percebi. Exclui o antigo e postei esse no lugar. É brega mas tá valendo.